segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Flores de plástico não morrem


Na bonita Nhamundá (AM), todos os anos acontece a festa do Tucunaré, o peixe mais famoso da ilha. Para a festança, que inclui culinária típica, shows e concurso de miss Tucunaré, toda a cidade é caprichosamente decorada.
Ao passar por algumas árvores floridas, a beleza supostamente natural da planta me chamou a atenção. As flores coloridas estavam harmonicamente dispostas nas árvores. Tão bem distribuídas, e de tons tão diversos e vibrantes, que desconfiei de algum truque. Pois lá estava. Bem no meio da floresta amazônica, talvez o maior berço da flora mundial, as árvores da festa do peixe foram decoradas com flores de papel.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O terror do curupira


No sítio do meu avô, no interior de SP, havia um pequeno pomar, com meia dúzia de pés de laranja, mas que, no meu imaginário infantil, era uma verdadeira floresta fechada e perigosa. Meu avô alimentava minha imaginação com histórias de sacis, bichos diversos e o temido curupira, que viveriam em harmonia no local. Era um truque dele para evitar que os netos fossem brincar no pomar à noite.
De todos os seres, meu maior medo se fixava no curupira. Como eu poderia escapar de um ser que tem pés virados e alma traquina? Já grande, descobri que o curupira era do bem, pois só atormentaria com assovios e ilusões aqueles que fossem até a floresta cortar lenha ou maltratar bichos inocentes. Para provar que sou corajosa, na Amazônia fui pessoalmente cumprimentar o curupira.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A arte do encontro


Ele tem 80 anos e se apaixonou quando ela tinha 15. Seu Walter Conceição, na época com 29 anos, passava pelo interior do Amazonas quando viu Maria Ferreira Muniz, então menina, linda e de laços. Caiu de paixão. Mas como na época já tinha uma noiva , não pode pedir a mão da donzela.
Terminou o noivado e voltou ao povoado, cinco meses depois para casar-se com Maria. Mas já era tarde, dona Maria já havia se casado. Desolado, tocou a vida. Casou algumas vezes, assim como ela.
Há cinco anos, a vida, arteira como sempre, encarregou-se de juntar dois. Eles se encontraram e nunca mais se desgrudaram. Há 15 dias, casaram-se.
Eu nunca tinha presenciado um casamento coletivo. E, uma vez que estava lá, não pude perder o de Parintins. Entrei na festa, comi coxinha e colhi histórias dignas de filme, como essa.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Entre a gravata e a cueca


O índio lutou tanto que conseguiu chegar ao poder. Foi eleito prefeito do município Barreirinha (AM). Da etnia Saterê, depois de muitas batalhas contra a extinção do seu povo, resolveu ir até Brasília, lutar para a retirada de não-índios da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Foi até a Câmara Federal fazer pressão para que o pedaço de chão sagrado continuasse longe da devastação.
Índio vestido à moda do homem branco, sapato italiano, calça social e terno. Ao chegar na entrada da Câmara, foi barrado e informado que sem a gravata não poderia entrar. Como? Índio Saterê, o prefeito, ficou abismado. Percebeu o como era importante a tal da gravata. Mais importante até que o cargo de prefeito.
Então pensou e decidiu. Foi até a calçada, procurou uma lixeira, tirou toda a roupa, botou lixo adentro, foi apenas de cueca até a entrada e identificou-se como Índio Saterê. Entrou. A gravata não vale mais do que um índio. (do AM)

Ataque da peixona


Na simpática cidadezinha de Faro (PA), onde só se chega de barco, botos sedutores de donzelas, cobras que engolem crianças inteiras e fogo que espalha e não queima são perigos reais. Histórias encantadoras.
Em uma roda de conversa, pude colher um monte delas. Algumas conhecidas, já outras com versão exclusiva, como a da bota. Não leia “bota” de colocar nos pés, e sim bôta, como fêmea do boto rosa.
Uma das mulheres com quem conversei me contou que a bôta seduziu o marido dela. Enfeitiçou mesmo, e o coitato não teve outra alternativa a não ser deixar-se emaranhar pelos encantos da peixona. Uma boa saída para os comprometidos, que caso saiam da linha, agora podem botar a culpa na bôta. (de SP)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Nada como o habitat natural

Olhando a paisagem acima, lembrei do pequeno pasto do meu avô, em Pereiras, interior de SP. Vaquinhas pastando felizes. Mas a imagem veio de uma das margens do Rio Amazonas. Sim, infelizmente os bois estão mesmo devorando a floresta. Navegando pelo Amazonas, pude ver o bicho típico da floresta - o boi - a planta típica da floresta - a grama - e, quando o barquinho parou, no meio das águas, ouvi também o barulho típico da floresta: a serra elétrica.
(de SP)